Pesquisar este blog

sábado, 11 de setembro de 2010

Pergunta?

Sou uma pergunta ambulante.
Vivo a interrogar.
É um sintoma de uma alergia karmica, uma coceira que me faz lembrar de paartes de mim mesmo que já nem sentia mais.
Sou disforme e crio forma conforme penso no que ainda é amorfo para mim.
Sou uma interrogação ambulante.
Sou o espelho privado, sou o espelho íntimo, sou o espelho comunitário. O espelho que reflete o que está em sua frente.
Sou a incerteza ambulante.
Sou eu que crio decisões mesmo que não haja uma resposta, até porque muitas vezes ela nem existe, revelando o lado mais sólido de minha existência.
Sou uma indagação, um questionamento ambulante, vadiando perdido enquanto crio o caminho para o meu destino certo.
Sou uma engrenagem ambulante.
Giro para a mesma direção que a evolução gira, impulsiono todo o resto do mundo, crio e destruo fortalezas, acendo e apago luzes.
Agora, se definir-se é limitar-se, tudo o que descrevi sobre mim já não faz mais sentido, uma vez que não tenho limites, transcendo o tempo e espaço e atinjo o infinito, aonde vive o meu objetivo construtor.
Então fica aqui um pedaço de mim mesmo: você concorda com tudo isso?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

4

O jovem estava em frente a um buraco com uma esfera roxa translúcida dentro, como se fosse um meteoro e tivesse caido com uma velocidade incrível.

- Mas o que é isso...?

E como um encanto, as palavras proferidas serviram como uma música de despertar para o objeto, que irradiou uma luz intensa, como um segundo sol. Com a intensidade da luz mais fraca, a esfera começou a flutuar, dando algumas voltas em torno do nosso herói, como se estivesse tentando reconhecê-lo, e parando em frente a ele, no ar.

"Mas q..."

- Olá! Eu estava te esperando! - saudou uma voz andrógena, surpreendendo o jovem atônito que, sem saber o que responder, continuou a observar a bola radiante.

"Pera ai... Essa voz está vindo dessa... 'Coisa'?"

- Nossa, você me encontrou mais rápido do que eu achei que iria...
- Quem... Quem é... Aliás... O QUE é você?
- Ah, desculpe-me, esqueci de me apresentar... Eu sou o Oráculo.
- O quê?
- É... Serei seu guia para a jornada que está prestes a iniciar.
- Jornada? Ah, sim... Jornada... (?)
- É! Mas... Mas eu não posso ficar aqui por muito tempo, você terá que estabelecer um santuário primeiro...
- Um San... Olha, dá pra me explicar tudo direitinho o que está acontecendo? Eu não sei de nada do que você está falando.
- É óbvio que não sabe. Até porque, qual seria a graça se você soubesse?
- Como?
- Olha, é o seguinte: antes de qualquer coisa, eu preciso... Quero dizer, nós precisamos de um santuário... Arrume um aí...
- Não, porque é super simples de se "arrumar" um santuário assim, do nada... Principalmente quando uma esfera de cristal roxo que fala te pede um santuário... Assim, super básico... E como você quer que eu faça isso, no meio do nada, em cima de uma montanha?
- Nossa, você não era assim... Tá parecendo até que os anos roubaram a sua imaginação...
- Como assim? Você quer o que, que eu imagine um santuário, é isso?
- Ué, e de que outro modo seria?
- (???)
- Sim, imagina um ai... Mas depressa, eu não aguentarei muito tempo aqui... Ah, e não esqueça, tem que ser um lugar que lhe pareça seguro e seja privado...

"Um santuário... Privado? Privado sempre me lembra privada de um banheiro de uma casa comunista qualquer... Enfim... Ok, vejamos... Hmm... Podia ser, tipo uma gruta né... Uma salinha escura, aconchegante... Com a parece de tijolos verde petróleo azulado... Com uma fontezinha grudada em uma das quatro paredes... É isso! Será essa salinha pequena, sem janelas nem paredes, escura e de cores frias, com a água escorrendo em uma fonte que será a morada do oráculo..."

Quando o jovem abriu os olhos após momentos de pura imaginação, encontrava-se no santuário que havia imaginado, com o Oráculo flutuando sobre a fonte, menos translúcido e mais roxo do que antes.

- Nossa, não estou acostumado com esse tipo de ambiente... Podia ser algo mais arejado não? Hehe... Enfim... Não mude mais, por enquanto. Agora que temos mais tempo, vejo que você não sabe nada do que você não sabe... Pode perguntar o que quiser.
- ... Mas não é meio óbvio que eu não saiba nada das coisas que eu nada sei?
- Não, não é óbvio.
- ...
- Mais alguma outra pergunta?
- De onde você me conhece?
- Ah, desde sempre!
- Como? De onde você veio?
- Eu fui criado para lhe servir como guia, por isso te conheço desde sempre. Eu vim da biblioteca superior.
- Biblioteca superior?
- Sim, biblioteca superior.
- ... E você será meu guia do que?
- Serei guia da sua jornada.
- Qual jornada? E por que fica me dando respostas completas o tempo todo? Não precisa, isso cansa...
- Ok. Jornada que você acabou de começar, em busca das chaves do arco-íris.
- Arco-íris? Que coisa mais... Feliz... E uma coisa: por que você só responde exatamente o que eu pergunto se é meu guia? Não deveria dar mais explicações e, tipo... Me "guiar" melhor?
- Ué, eu só respondo o que você pergunta.
- Você só responde perguntas ou realiza desejos?
- Que tipo de desejo?
- Por exemplo, eu desejo que você me diga o que eu tenho que fazer pra achar essas chaves...
- Ah, sim, esse tipo de desejo. Bem, eu não posso falar como fazer isso agora sobre todas as chaves... Só sobre a primeira...
- Ufa! Finalmente falou algo que não fosse apenas um resposta curta e objetiva... E como faço para achar? Você pode me "guiar" até ela?
- Você só vai achar na hora certa. Se eu posso guiá-lo até onde ela se encontra? Bem, você já está onde ela também está.
- ... Cadê então? Não a vejo... Como faço para vê-la? Dê-me todo o material necessário!
- Bem, não posso fazer todas essas coisas ao teu modo, mas farei o que estiver ao meu alcance... Mas antes você deve se desfazer de tudo o que possui. Está preparado?
- Como assim?
- Ah... Você terá que abrir mão do seu reino, dos seus poderes, das pessoas que conhece... Da sua vida inteira, para começar uma nova.
- ?!
- Juro que não dói. É só abrir as suas mãos fechadas em minha direção. Quando fizer isso, estará pronto. Ficarei aqui esperando.

O jovem pensou... Pensou... Pensou... Não queria abandonar tudo o que tinha.

"Mas isso é injusto... ! Eu não quero perder meus poderes, meu castelo, minha Fênix... Nada! Nem minha bolsa sem fundo... Minha espada com 103 espíritos, minha armadura verde da floresta... Mas espere! Ah, sou um gênio! Tive uma idéia..."

Então o rapaz estendeu suas mãos abertas em direção ao Oráculo e um clarão tomou conta de tudo.